domingo, 9 de abril de 2017

Sobre as cantigas galego-portuguesas

       A arte de trovar, manuscrito de autoria desconhecida pertencente ao “Cancioneiro da Biblioteca Nacional” (Biblioteca Nacional de Lisboa), nos diz um pouco sobre a poética trovadoresca e a classificação das cantigas, com algumas explicações de gêneros, recursos estilísticos e práticas da elaboração das poesias trovadorescas. Apesar das lacunas encontradas no material podemos destacar e classificar as cantigas, segundo seu conteúdo temático, em três espécies, são elas: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e mal dizer.



        Cantigas de amor: foram influenciadas pelas cantigas provençais e têm nisso uma fonte de prestígio, se apresentam de forma mais elaborada e complexa. Geralmente cantadas por trovadores nobres ou sob tutela de nobres e apresentam voz masculina. Seu tema principal é a “coita” que é o sofrimento e a tensão gerada entre a recusa e a indiferença da “senhor” ao amor que lhe é oferecido. A relação do amor é imposta pela igreja como algo espiritual e platônico. Os trovadores usam em suas cantigas muitas referências ao amor "espiritual" e ao fato de  de que não poder ver nem tocar suas amadas, chamadas na lírica trovadoresca de "Senhor". O trovador é incapaz de dizer do seu amor, e por ele preza e zela, mas apenas no seu imaginário, o amor por ele vivido foge a sua realidade.
            Cantigas de amigo: Falam sobre amor, trovadores homens que expressam a psiquê das mulheres normalmente narrando a separação da donzela e do seu namorado. A escolha lexical e a estruturação sintática são mais simples que nas cantigas de amor.  Sofrem influências das visões de mundo das classes populares, tem como tema central o amor natural da ordem do instinto, corpo e psiquê, reage contra a concepção espiritual de amor. A voz é feminina, dotada de simplicidade popular, provavelmente de camponesas, sofre influência das Kharjas (pequenas cantigas em voz de mulheres).
            Cantigas de escárnio e mal dizer: Em geral a voz é masculina, sofrem influências nobres e dos populares. São conhecidas como cantigas “satíricas”, e tem por objetivo criticar algo ou alguém. Nas cantigas de escárnio os trovadores se utilizam das palavras “encobertas” que possuam duplo sentido para que sua crítica seja registrada, mas não facilmente identificada. Já as cantigas de mal dizer se utilizam da linguagem do dia a dia, onde a crítica é identificável e utilizam das palavras “descobertas” e as de baixo calão. Observaremos abaixo fragmentos retirados da Arte de Trovar – Do cancioneiro da Biblioteca Nacional, onde apresentaremos definições ainda escritas em galego-português:
                        “Cantigas d’escarneo som aquelas que os trobadores fazem querendo dizer mal d’alguém em elas, e dizem-lho per palavas cobertas que hajam dous entendimentos, pera lhe-lo nom entenderem[...]”
                        “Cantigas de maldizer som aquela [s] que fazem os trobadores [..] descobertamente e [em] elas entram palavras  e [m] que querem dizer mal e nom haver [am] outro entendimento senon aquel que querem dizer [...]”


Referencial teórico:
A arte de trovar – Do Cancioneiro da Biblioteca Nacional. http://cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp: último acesso em 09 de abril de 2017.

MONGELLI, Lênia Márcia. Fremosos Cantares: antologia da lírica medieval galego-portuguesa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
SPINA, Segismundo: A lírica trovadoresca. São Paulo: Edusp, 1996.

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