sábado, 15 de abril de 2017

Cantigas de Escárnio e Maldizer

As cantigas de escárnio ou maldizer representam o sentimento de delação, através da crítica por meio de satirização de um individuo próximo em seu circulo social. Enquanto as de escárnio traziam ambiguidade em seu sentido, mascarando sutilmente sua verdadeira intenção, as de maldizer simplesmente denunciavam, sem pudor algum, o alvo de sua composição, até mesmo utilizando palavras de baixo calão.

A cantiga de João Garcia de Guilhade representa a de escárnio, já que faz todo um jogo de duplo sentido e sutileza em relação ao recipiente. Foi feita como uma resposta à queixa de uma senhora por conta de nunca ser louvada nas cantigas de João Garcia. Acabou por ser louvada de uma maneira jocosa.

Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!


Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!


Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!



Já a de Fernão Velho caracteriza o maldizer, já que o alvo das criticas se apresenta claramente, e é ofendido veementemente. No caso, o alvo é Maria Balteira, que é dirigida bem diretamente na cantiga.



Maria Pérez se maenfestou
noutro dia, ca por [mui] pecador
se sentiu, e log'a Nostro Senhor
pormeteu, polo mal em que andou,
que tevess'um clérig'a seu poder,
polos pecados que lhi faz fazer
o Demo, com que x'ela sempr'andou.


Maenfestou-se ca diz que s'achou
pecador muit', e por en rogador
foi log'a Deus, ca teve por melhor
de guardar a El ca o que a guardou;
e mentre viva, diz que quer teer
um clérigo com que se defender
possa do Demo, que sempre guardou.


E pois que bem seus pecados catou,
de sa mort'houv'ela gram pavor
e d'esmolnar houv'ela gram sabor;
e log'entom um clérigo filhou
e deu-lh'a cama em que sol jazer,
e diz que o terrá, mentre viver;
e est'afã todo por Deus filhou.


E pois que s'este preito começou
antr'eles ambos houve grand'amor
antr'ela sempr'[e] o Demo maior,
atá que se Balteira confessou;
mais, pois que vio o clérigo caer
antr'eles ambos, houv'i a perder
o Demo, des que s'ela confessou.



Bibliografia:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1537&tr=4&pv=sim
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1520&tr=4&pv=sim

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